tickets got me writting!

Abro os olhos e, ainda completamente no mundo de lá, vejo que não estou na minha cama. À minha frente está uma mulher bonita, mas não de forma banal, tem ar de quem tinha sido tirada da imaginação de alguém. É loira e os seus lábios saltam à vista, são de vermelho carmim. Os olhos fundos e azuis que me fitam, parece que não olham para nada… O cabelo, ligeiramente ondulado, espreita por baixo de um chapéu condicente com o resto da indumentária. Que estranho! Parece tirada de um filme de época: evoca os anos da lei seca. Os olhos que pareciam não olhar para lado nenhum, fecham-se. Antes que conseguir perceber o que acontecia à volta, sinto uma mão estendida à minha direita e oiço:
-“ O bilhete por favor!?” - Embriagado com a imagem anterior, subo os olhos e vejo um revisor! Estou num comboio… Como não percebi isto antes! O som que a todos contaminava num comboio, era mudo! Que alterada ficou a minha percepção. Procuro em mim o bilhete e surpreendentemente tinha-o no bolso do colete que tinha vestido.
-“ Continuação de boa viagem, Sr. Anderson! A locomotiva chegará às 18 horas e 17 minutos à “Grand Station de Illinois.”
Illinois??? Locomotiva?? Anderson? Anderson!? Não percebo… O que se passa aqui? Entre a confusão, a mulher desfaleceu… Antes que caísse, agarrei-a. Com os meus braços envoltos no seu dorso sinto que as minhas mãos ficam húmidas. Sento-a no seu lugar mas, quando solto o seu corpo, reparo que as minhas mãos que agora seguravam os seus braços estavam ensanguentadas… Estava morta.
Sem perceber exactamente quem era, onde estava, via-me envolvido na morte daquela pessoa. Por mais bem explicado que isto fosse, não haveria seguramente saída fácil.Num rasgo de tolice, decido fugir. Ao tentar sair do camarote do comboio, deparo-me com a porta trancada do lado de fora, tento forçá-la, mas em vão… em desespero tento procurar qualquer objecto que me permitisse arrombar a mesma. Encontro mesmo ao lado da vítima um varão de apoio de braço meio solto: apresso-me a tentar arrancá-lo do banco e consigo! Desequilibro-me com o varão já na mão e reparo que a mulher ao meu lado tem uma mala de pele em fole… a curiosidade foi mais forte e adiei a fuga por momentos. No punho tinha uma chapa brilhante com uma gravação que dizia “Sr. Anderson”… Gelei! Não bastava toda a confusão e ainda mais isto… Mais um ponto em comum com o cadáver! Subitamente, sinto o comboio a começar a abrandar e instintivamente lancei o meu corpo contra a porta do camarote e consegui forçar a porta. A porta estava trancada de fora com um cabo de polícia. Alguém queria que forçosamente eu fosse descoberto nestas condições…aproximo-me da última carruagem e salto. Depois de umas cambalhotas, acabo por cair num campo de milho. Imundo e com algumas mazelas, perdi a consciência no meio do milheiral…
Autor Desconhecido
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