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24 de outubro de 2009

Atenção, Professores e Alunos do 7º Ano : eis Leandro, rei da Helíria

“Quero-vos como a comida quer ao sal” , assim definiu a princesa o seu amor pelo pai, numa velha história da tradição popular.


É essa história que aqui se conta, adaptada ao teatro. Uma história onde se fala de amor, de ingratidão, de sonhos, de remorsos, de longas viagens de aprendizagem, e de como se faz e desfaz um rei – ou seja, do que acontece a um rei quando a coroa lhe cai da cabeça.


Personagens:
Leandro
Bobo
Hortênsia
Amarílis
Violeta
Felizardo
Reginaldo
Simplício
Pastor





1º Acto





Cena I




(No jardim do palácio real de Helíria. Rei Leandro passeia com o bobo)

REI – Estranho sonho tive esta noite … Muito estranho …
BOBO – Para isso mesmo se fizeram as noites, meu senhor! Para pensarmos coisas acertadas, temos os dias – e olha que bem compridos são!
REI – Não sabes o que dizes, bobo! São as noites, as noites é que nunca mais têm fim!
BOBO – Ai, senhor, as coisas que tu não sabes …
REI – Estás a chamar-me ignorante?
BOBO – Estou! Claro que estou! Como é possível que tu não saibas como são grandes os dias dos pobres, e como são rápidas as suas noites … Às vezes estou a dormir, parece que mal acabei de fechar os olhos – e já tocam os sinos para me levantar. A partir daí é uma dança maluca, escada acima escada abaixo: és tu que me chamas para te alegrar o pequeno-almoço; é Hortênsia que me chama porque acordou com vontade de chorar; é Amarílis que me chama porque não sabe se há-de rir se há-de chorar – e eu a correr de um lado para o outro, todo o santo dia, sempre a suspirar para que chegue a noite, sempre a suspirar para que se esqueçam de mim, por um minutinho que seja! Mas o dia é enorme, enorme! O dia nunca mais acaba, e é então que eu penso que, se os reis soubessem destas coisas, deviam fazer um decreto qualquer que desse aos pobres como eu duas ou três horas a mais para …
REI (interrompendo) – Cala-te!
BOBO – Pronto, estou calado.
REI – Não me interessam agora os teus pensamentos, o que tu achas ou deixas de achar. Eu estava a falar do meu sonho.
BOBO – Muito estranho tinha sido, era o que tu dizias …
REI – Nunca me interrompas quando eu estou a falar dos meus sonhos!
BOBO – Nunca, senhor!
REI – Nada há no mundo mais importante do que um sonho.
BOBO – Nada, senhor?
REI – Nada.
BOBO – Nem sequer um bom prato de favas com chouriço, quando a fome aperta? Nem sequer um lumezinho na lareira, quando o frio nos enregela os ossos?
REI – Não digas asneiras, que hoje não me apetece rir.
BOBO – Que foi que logo de manhã te pôs assim tão zangado com a vida? Já sei! O conselheiro andou outra vez a encher-te os ouvidos com as dívidas do reino!
REI – Deixa o conselheiro em paz … E o reino não tem dívidas, ouviste?
BOBO – Não é o que ele diz por aí, mas enfim … Então, se ainda por cima não deves nada a ninguém, por que estás assim tão mal disposto? Terá sido coisa que comeste e te fez mal? Aqui há dias comi um besugo estragado, deu-me volta às tripas, e olha …
REI (interrompendo-o) – Cala-te que já não te posso ouvir! (Suspira) Ah, aquele sonho! Coisa estranha aquele sonho …
BOBO – Ora, meu senhor! E o que é um sonho? Sonhaste, está sonhado. Não adianta ficar a remoer.
REI – Abre bem esses ouvidos para aquilo que te vou dizer!
BOBO (com as mãos nas orelhas) – Mais abertos não consigo!
REI – Os sonhos são recados dos deuses.
BOBO – E para que precisam os deuses de mandar recados? Estão lá tão longe …
REI – Por isso mesmo. Porque estão longe. Tão longe, que às vezes nos esquecemos que eles existem. É então que nos mandam recados. Mas os recados são difíceis de entender. Acordamos, queremos recordar tudo, e muitas vezes não conseguimos.
BOBO (aparte) – É o que faz ser deus … Eu cá, quando quero mandar recado, é uma limpeza : “Ó Brites, guarda-me aí o melhor naco de toucinho para a ceia!” (Ri) Não preciso de mandar os meus recados pelos sonhos de ninguém!
REI – Que estás para aí a resmonear?
BOBO – Nada, senhor! Reflectia apenas nas tuas palavras.
REI – E bom é que nelas reflictas. Apesar de bobo, quem sabe se um dia não irão os deuses lembrar-se de mandar algum recado pelos teus sonhos … (Pára, de repente. Fica por uns momentos a olhar para o bobo, e depois pergunta, com ar muito intrigado) Ouve lá, tu também sonhas?

(Aqui a cena fica suspensa, e a luz centra-se apenas no bobo, que fala para os espectadores na plateia)









BOBO – Será que eu sonho? Será que eu choro? Será que é sangue igual ao deles o que me escorre das costas quando apanho chibatadas por alguma inconveniência que disse? Que sabem eles de mim? Nem sequer o meu nome eles conhecem. Pensam que já nasci assim, coberto de farrapos, e que “bobo” foi o nome que me deu a minha mãe. (Pausa) Se é que eles sabem que eu tenho mãe, e pai, e que nasci igualzinho ao rei, ao conselheiro, a todos os nobres deste e doutros reinos. E quando um dia morrermos e formos para debaixo da terra, tão morto estarei eu como qualquer deles.

(A acção recomeça onde estava)

BOBO (rindo) - Não, meu senhor! Só os grandes fidalgos é que sonham! Nós somos uns pobres servos … Sonhar seria um luxo, um desperdício! De resto, que podiam os deuses querer deste pobre louco? Que recados teriam para lhe dar?
REI – És capaz de ter razão … (Suspira) Nem sabes a sorte que tens!
BOBO (irónico) – Sei sim, meu senhor! Sou uma pessoa cheia de sorte! Todas as manhãs, quando o frio me desperta e sinto o corpo quebrado de dormir na palha estendida no chão, então é que eu percebo como sou feliz …
REI – Zombas de mim?
BOBO – Zombar, eu, senhor? Zombar de quê se as tuas palavras são o eco das minhas?
REI – Pareceu-me …
BOBO – Deve ter sido de teres acordado maldisposto por causa desse tal sonho.
REI – Ah, meu bobo fiel, como eu às vezes gostava de estar no teu lugar, sem preocupações, sem responsabilidades …
BOBO – É para já, senhor! Toma os meus farrapos e os meus guizos, e dá-me o teu manto, a tua coroa, o teu ceptro …
REI (agitado) - Cala-te! … Era isso mesmo que se passava no sonho … A coroa … o manto … o ceptro … tudo no chão … eu a correr, mas sem poder sair do mesmo sítio … e a coroa sempre mais longe, mais longe … e o manto … e o ceptro … e as gargalhadas …
BOBO – Gargalhadas? Não me digas que eu também entrava no teu sonho?
REI (como se não o tivesse ouvido) - … as gargalhadas delas … e como elas se riam … riam-se de mim … e a coroa tão longe … e o manto tão longe … e o frio … tanto frio que eu tinha! …
BOBO – Perdoa-me, senhor, mas isso são tolices, dizes coisas sem nexo …Foi alguma coisa que comeste ontem, tenho a certeza.
REI – Não são coisas sem nexo: são recados. Recados dos deuses (Aproxima-se do bobo e diz-lhe ao ouvido) Tenho medo!
BOBO – Shiuu! NUNCA DIGAS ISSO! Já viste o que podia acontecer se os deuses te ouvissem? Se descobrissem que os reis também têm medo? Se descobrissem que os reis podem mesmo ficar a-pa-vo-ra-dos?
REI (afasta o bobo e retoma a sua dignidade real) – Tens razão! Quem foi que aqui falou em medo? Eu sou o rei Leandro, senhor do reino da Helíria! Tenho um exército de homens armados para me defenderem. Tenho um conselheiro que sabe sempre o que há-de ser feito. Tenho espiões bem pagos, distribuídos por todos os reinos vizinhos, que me informam do que pensam e fazem os meus inimigos …
BOBO – Tens inimigos, senhor?
REI – Claro que tenho inimigos. Para que serve um rei que não tem inimigos?
BOBO – Realmente não devia ter graça nenhuma. Eu cá, de cada vez que me armam uma cilada e acabo espancado no pelourinho, também digo sempre “Ainda bem que tenho inimigos, ainda bem que tenho inimigos” … Se ninguém me batesse, se ninguém me cobrisse o corpo de pontapés, acho mesmo que era capaz de morrer de pasmo …
REI – Zombas de mim?
BOBO – Que ideia, senhor! Como posso zombar de ti, se penso como tu pensas?
REI – Parecia …
BOBO – É o que eu digo: efeitos desse maldito sonho. Por que não o esqueces de vez?
REI – Tens razão. Farei por esquecê-lo. Não tenho motivos nenhuns para estar inquieto. Ainda por cima … (com um sorriso enlevado) ainda por cima com estas flores que são a luz dos meus olhos! (Aponta para Hortênsia e Amarílis, que entram nesse momento, com as suas aias)


Cena II
Hortênsia, Amarílis, Rei, Bobo, Aias



HORTÊNSIA – Faláveis de nós, meu pai?
REI – Pois de quem mais poderia ser? Não sois vós o sol que alumia a minha velhice?
AMARÍLIS – Velhice? Quem vos ouvir pensará que o vosso fim está perto! Meu pai : vós sois ainda um jovem, estais agora na plena posse de vossas faculdades! …
HORTÊNSIA – Tomaram muitos príncipes moços, dos reinos vizinhos, terem a vossa agilidade, o vosso tacto, a vossa inteligência, a vossa lucidez …
BOBO – A vossa quê?!
HORTÊNSIA (impaciente) – Lucidez.
BOBO – Ah! Pareceu-me ouvir falar em Lúcifer, e eu com esse não quero conversas! (Canta:)
Foge de mim, Lúcifer
Que te esmago se eu quiser
Com pilão ou com colher
Para depois te comer
Va de Retro Satanás
Que te meto no cabaz
Onde esmagado serás
Pelas pinças da tenaz
Vai à vida Belzebu
Mete os cornos no baú
Que te embrulho em pano-cru
E te como com peru
Glu glu glu glu glu glu glu

AMARÍLIS – Cala-te, impertinente! Só dizes inconveniências! És a vergonha desta corte.
BOBO – Ah! Agora sou impertinente! Agora sou a vergonha desta corte!
REI – Não estás a ser um modelo de virtudes, hás-de concordar …
BOBO (para Amarílis) – Pois é, mas há bocado, quando me chamaste para eu te cantar umas trovas sobre a tua irmãzinha (aponta para Hortênsia), já eu te servia, já eu não dizia inconveniências …
HORTÊNSIA (intrigada) – Trovas a meu respeito?
AMARÍLIS (aflita) – Não foi nada do que estás a pensar …
HORTÊNSIA – O que vem a ser isso?
AMARÍLIS – Nada, nada …
BOBO – Quem nada não se afoga …
HORTÊNSIA – Quero saber, já! O que foi que cantaste a meu respeito, bobo imbecil?
BOBO – Eu? Eu não cantei nada! Posso ser imbecil, mas não sou maluco! … Ela (aponta para Amarílis), ela é que me pediu. Que estava aborrecida, dizia ela. Que eu inventasse cantoria afinada a teu respeito, coisa caprichada, que a fizesse rir à gargalhada …
HORTÊNSIA – Não faltava mais nada senão ser motivo de chacota para a minha irmã! E afinal que foi que tu cantaste, velho doido?
BOBO – Nada, senhora, que eu gosto muito da minha pele e não me estava a apetecer ser logo chicoteado pela manhã, se por acaso tu me ouvisses.
REI – Não és tão doido como pareces …
BOBO – Mas ela é que não se calava … e lá ia mandando o mote …
AMARÍLIS – Não lhe dês ouvidos!
BOBO (imitando-a) - “Tu que tão bem sabes cantar”, dizia ela, “ bem podias versejar agora para me pores bem-disposta”, dizia ela, “bastaria olhares para Hortênsia, para o seu ar de galinha emproada”, dizia ela …
HORTÊNSIA (esbraceja, agarrada por duas aias) – Maldita!
BOBO - … “para a sua voz de gata em noite de lua cheia”, dizia ela, “para o seu andar que mais parece a jumenta do moleiro quando sobe a encosta carregada de sacos de farinha”, dizia ela …
HORTÊNSIA – “A jumenta do moleiro” … Eu mato-a! Eu mato-a!
AMARÍLIS (agarrada por duas aias) – Eu dou cabo de ti, miserável linguarudo!
BOBO - … “para os sorrisinhos de sonsa que ela manda para cima de toda a gente”, dizia ela …
(As duas irmãs conseguem soltar-se dos braços das aias e andam à bulha uma com a outra, insultando-se mutuamente, enquanto o rei tenta apartá-las)
REI – Então, minhas flores, que triste espectáculo estais a dar! Imaginai que vossos noivos entravam agora aqui e vos viam. Que iriam eles dizer?
AMARÍLIS – Iriam decerto ordenar que este maldito bobo fosse metido a ferros na mais escura masmorra deste castelo!
HORTÊNSIA – Iriam decerto exigir explicações de Amarílis!
AMARÍLIS – Ora, minha irmã! Tem juízo! Estás a dar ouvidos a balelas de um louco que só mesmo a grande bondade de nosso pai mantém nesta casa … Quando me casar, bobo assim não entra no meu palácio! Antes morrer de tédio a vida inteira!
REI – Ora vá, fazei as pazes, que eu não gosto de ver as minhas flores tão alteradas.


Cena II

Os mesmos, mais Violeta

VIOLETA - Mas que barulheira infernal! que vem a ser isto?

BOBO (voltando-se para a plateia, canta) -

Que lhe hei-de chamar? Berrata? Bulha? Inveja? Zaragata? Tareia? Surra? Bravata entre duas castelãs? Antes que venha a chibata, vou dizer que é ... serenata, e que isto é amor de irmãs! ...

VIOLETA - Estava eu a tocar o meu alaúde quando, de repente, o barulho foi tanto, que parecia que tinha rebentado uma tempestade!

HORTÊNSIA - Vai, vai tocar o teu alaúde, que a conversa não é contigo ...

AMARÍLIS - Foi apenas uma breve troca de palavras em tom mais elevado. Não te importes, são coisas de gente crescida ...

VIOLETA - Que mania a vossa de ainda me considerarem uma criança! (virando-se para o pai) Pois não é verdade, meu pai, que o Príncipe Reginaldo chegou ao nosso reino há uma semana para pedir a minha mão?

REI (aborrecido) - Falemos de outros assuntos ...

VIOLENTA - É ou não verdade?

REI - É ... é verdade ... mas não quero pensar nisso ... estou mais preocupado com outras coisas ...

BOBO (aparte) - Mil ratazanas me mordam se não é ainda a porcaria do sonho a atazanar-lhe o juízo!

VIOLETA - Ouvistes, minhas irmãs? O Príncipe Reginaldo está neste reino, e quer casar comigo!

HORTÊNSIA e AMARÍLIS (em coro) - O Príncipe Reginaldo?! Esse pelintra?

REI - Meninas! Então! Tende tento na língua, minhas flores!

BOBO (aparte) - E depois eu é que digo inconveniências ...

REI - Dizias alguma coisa, bobo?

BOBO - Dizia que o Príncipe Reginaldo é um belo moço, não desfazendo ...

HORTÊNSIA e AMARÍLIS - Belo moço? Deixa-me rir! (cantam)

HORTÊNSIA - Tem olhos tortos

AMARÍLIS - E ratos mortos nas algibeiras!

HORTÊNSIA - Anda de lado todo entrevado

AMARÍLIS - Só diz asneiras!

HORTÊNSIA - Se faz calor, traz cobertor, meias de lã

AMARÍLIS - E se faz frio, nada no rio pela manhã

HORTÊNSIA - Ri se está triste!

AMARÍLIS - Chora de um chiste!

HORTÊNSIA - É de fraca rês ...

AIAS (em coro) - Dizem que é louco!

HORTÊNSIA e AMARÍLIS (ao ouvido de Violeta) - Vai fazer pouco de nós as três!

VIOLETA - Não vos apoquenteis, irmãs! Se for tudo isso que dizeis, eu saberei como viver com ele. É comigo que ele quer casar, e não com qualquer de vós. O problema é meu.

HORTÊNSIA - E irás deixar sozinho o nosso pai?

AMARÍLIS - Olha que ele já não é criança! Vê como está alquebrado, como as suas forças lhe vão faltando, como se arrasta com dificuldade ...

BOBO - Mau ... Há bocado era um jovem na flor da idade, agora já se arrasta com dificuldade ... Muito depressa envelhecem os reis, palavra de honra ...

REI - Que murmurais vós a meu respeito?

VIOLETA - Senhor, minhas irmãs parecem muito preocupadas com o meu casamento ...

REI - N ão quero ouvir falar de casamentos. E era de mim que faláveis, que eu bem vos ouvi!

HORTÊNSIA - Senhor, se era de vós que falávamos, decerto seria para gabarmos o vosso andar escorreito, as vossas palavras sempre justas e acertadas ...

BOBO (aparte) - Fora as que eu lhe oiço quando está sozinho ...

AMARÍLIS - Senhor, se era de vós que falávamos, decerto seria para louvar a vossa bondade e o vosso desprendimento pelos bens materiais. Nunca me lembro de vos ver agarrado aos cofres de ouro do reino, e sempre que a minha vaidade de mulher desejou mais um vestido, um toucado, ou uma fita para os cabelos, sempre os meus desejos foram realizados. Pai mais bondoso que vós não existe decerto neste mundo!

REI (sorrindo) - Razão tive em escolher para vós nomes de flores : sois as flores da minha vida, e melhores filhas não devem ter existido à face da terra!

BOBO - Então e a mim, ninguém me elogia?

(A cena pára, e o Bobo dirige-se à plateia)

Salamaleques de um lado, salamaleques do outro, confesso que já estou a começar a ficar um pouco farto ... "Sois o melhor pai do mundo" ... "Sois as flores do meu jardim" ... Então e eu? Não há por aí ninguém que saia em minha defesa? Claro que eu não exijo que digam que sou o sol das vossas vidas, ou a flor dos vossos jardins ... Se calhar vocês nem têm jardim ... Mas ao menos podiam dizer que eu era um bobo jeitosinho, bem-apessoado, capaz de levar uma moça ao altar, o melhor bobo que vocês alguma vez conheceram. A propósito, como vamos de bobos neste reino? Se aquilo ali der para o torto, acham que me safo por cá? Que tais as condições de trabalho? Temos caixa, reforma, passe social, lugares cativos no Benfica ou no Sporting, essas coisas? E chibata? Apanha-se muita chibatada cá por este reino? Bom, informem-se disso que, assim que acabar a peça, a gente conversa. Mas agora tenho de voltar para a minha história, senão vocês nunca mais sabem como aquilo acaba! Adeusinho!

(A acção é retomada onde estava)

REI (para Violeta) - Estás tão calada ...

VIOLETA - Perdoai, meu pai, se não vos divirto tanto como as minhas irmãs ...

REI - T udo te perdoo, minha flor entre as flores! Que bem eu fiz em escolher para ti o nome de Violeta : poderá parecer uma flor modesta, mas o seu perfume é tão intenso que nunca passará despercebida onde quer que se encontre.

HORTÊNSIA - Mas Hortênsia é flor de muito maior porte!

BOBO - Sabes que o povo diz que as Hortênsias são mulheres caprichosas e inconstantes?

HORTÊNSIA - E eu quero lá saber do povo ...

AMARÍLIS - E a flor da amarílis é de rara beleza ...

BOBO - Diz o povo que é mulher artificiosa e enganadora ...

AMARÍLIS - O povo? Eu nem sei o que é o povo!

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